Literatura como denúncia e resistência: uma análise do conto a Seca, de Baltasar Lopes da Silva.

Este artigo analisa o conto A Seca, de Baltasar Lopes da Silva, explorando como a literatura cabo-verdiana denuncia violências estruturais e constrói formas de resistência. Através de metodologia qualitativa e análise textual detalhada, articulada aos referenciais da necropolítica (Mbembe) e dos estudos pós-coloniais (Spivak), o estudo revela três dimensões fundamentais na obra: a seca como dispositivo de poder que produz vidas descartáveis; as estratégias de resistência cotidiana que reafirmam a humanidade frente ao abandono; e a universalização da experiência cabo-verdiana através de recursos míticos e linguagem transculturada. Demonstra-se como Lopes não apenas critica a negligência estatal, mas também celebra a capacidade de resistência cultural, transformando a dor em potência narrativa. O artigo contribui para os estudos literários africanos ao oferecer uma leitura atualizada da obra, situando-a no diálogo mais amplo das literaturas do Sul Global e destacando sua relevância para se pensar justice epistêmica e direitos humanos. Conclui-se que a literatura opera, assim, como espaço privilegiado de denúncia e reumanização, capaz de interpelar o presente com força ética e política.