"Não olhe para cima": o papel do professor de biologia frente ao negacionismo científico

O atual cenário de negacionismos científicos é uma realidade mundial que, perigosamente, pode promover uma vasta deslegitimação das ciências perante a sociedade e comprometer um pensamento coletivo mais cientificamente rigoroso. Com essa preocupação em vista, essa pesquisa tece reflexões a partir da produção cinematográfica “Não olhe para cima” relacionando-a ao papel do professor de Biologia frente aos cenários negacionistas com os quais precisa lidar cotidianamente em sua prática. Nesse sentido, o objetivo dessa investigação consistiu em construir possibilidades de diálogo e de combates a negacionismos científicos, a partir da inter-relação entre diferentes expressões da cultura, mais especificamente, o cinema e os saberes científicos. Metodologicamente, o trabalho encontra-se organizado em três etapas: uma imersão no filme “Não olhe para cima” visando saturar as possibilidades de encontrar temas pertinentes ao estudo de ciências e combate de negacionismos científicos, sistematização dos discursos produzidos e diálogo de saberes entre cinema e ciências pautado na aproximação do que emerge das interpretações sobre os eixos temáticos estabelecidos na etapa anterior e de como essas discussões podem ser contextualizadas em aulas de ciências. Em termos analíticos, assumimos características da análise multimodal estabelecida por Arzarello (2006) e da Análise Textual do Discurso – ATD (MORAES, GALIAZZI, 2006). Como resultado desse processo emergiram quatro categorias temáticas: política e ciências; polarização política, mídias sociais e ciências; machismo e ciências e confiabilidade nas ciências. A discussão dessas categorias com produções intelectuais do campo das ciências e do ensino de ciências biológicas evidenciaram que os negacionismos científicos caracterizam-se como um tema atual, relevante e bastante danoso que compromete o pensamento e as atitudes em âmbitos individuais e coletivos, de modo a radicalizar comportamentos e, até mesmo, colocar a saúde a e a vida das pessoas em risco. Nesse cenário, é fundamental que os professores promovam o combate aos movimentos anti-ciências no processo de enculturação científica dos sujeitos, construindo conhecimentos sobre os métodos científicos e sua confiabilidade, bem como fomentando comportamentos críticos e participativos porque pautados em lógicas rigorosas.