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Trabalho de Curso - Graduação - Monografia Acesso aberto (Open Access) Diagnóstico das embarcações pesqueiras e das relações sociais incutidas na carpintaria naval do litoral paraense(2025-03-21) RIBEIRO , Joerbt Franco; ANDRADE, Carlos Eduardo Rangel de; http://lattes.cnpq.br/2912577877996403; https://orcid.org/0000-0003-2973-6364; BARBOZA , Roberta Sá Leitão; http://lattes.cnpq.br/9331256487699477; https://orcid.org/0000-0003-2367-553XO estudo intitulado “Diagnóstico das embarcações pesqueiras e das relações sociais incutidas na carpintaria naval do litoral paraense” teve como principal objetivo valorizar compreender as relações sociais presentes na carpintaria naval do litoral do Para, e ainda realizar um diagnóstico das tipologias de embarcações construídas. A pesquisa foi realizada nos municípios de Augusto Corrêa e Bragança, onde foram mapeados os estaleiros e analisados os critérios locais de classificação das embarcações, bem como as relações sociais envolvidas na produção, no trabalho e no aprendizado do ofício. Para alcançar esses objetivos, foram visitados 18 estaleiros nos dois municípios, Bragança e Augusto Corrêa, e realizadas 34 entrevistas semiestruturadas entre os meses de setembro e dezembro de 2014, abrangendo 74 trabalhadores fixos e diaristas. Esse número representa cerca de 46% dos carpinteiros navais da região, o que proporcionou uma visão ampla da realidade do setor. Também foi realizado um monitoramento do número de embarcações construídas em 1 ano em alguns estaleiros da região. Toda a pesquisa foi alicerçada em uma relação mútua de diálogo, respeito e confiança, uma vez que atuo como carpinteiro naval na região há bastante tempo. O estudo identificou nove tipos principais de embarcações utilizadas na região: casco ou batelão, canoa, caíco, rabeta, bote (ou barco pequeno), barco, biana, lancha e catamarã. Algumas dessas embarcações possuem origem em outros estados, como a biana (Maranhão) e a lancha (Ceará), mas foram incorporadas à cultura naval local devido à sua funcionalidade e adaptabilidade ao ambiente pesqueiro da região. Embora os órgãos ambientais e de pesquisa classifiquem a frota pesqueira do litoral norte em sete categorias — montaria, canoa, canoa motorizada, barco de pequeno porte, barco de médio porte, barco industrial e geleira —, verificou-se que pescadores e carpinteiros apresentam dificuldade em reconhecer essa categorização oficial, pois utilizam critérios próprios baseados em aspectos práticos, como o tipo de madeira, forma do casco e propósito da embarcação. A pesquisa também revelou a estrutura hierárquica dentro dos estaleiros, onde, além do carpinteiro naval chefe, há outros profissionais desempenhando funções essenciais, como ajudantes de carpinteiro, calafates (responsáveis pela vedação das embarcações), fibradores, eletricistas, mecânicos, pintores e abridores de letras. Essa divisão do trabalho demonstra a complexidade do processo de construção naval artesanal, que envolve diversas etapas e especializações. Os dados levantados indicam que, em 2014, os estaleiros da região construíram aproximadamente 163 novas embarcações e realizaram o conserto de 326. A carpintaria naval na região se mantém essencialmente artesanal, embora o uso de alguns equipamentos eletrônicos auxilie em determinadas etapas do processo. No entanto, não há formação técnica formal para os 7 carpinteiros, e o conhecimento é transmitido de forma tradicional, geralmente de pai para filho ou entre familiares próximos. Contudo, percebe-se um baixo interesse dos jovens em continuar essa tradição, o que pode impactar a continuidade do ofício a longo prazo. Outro aspecto relevante identificado no estudo foi a precariedade da infraestrutura dos estaleiros, que não apresenta condições adequadas para o pleno funcionamento das atividades. Além disso, observou-se um uso insuficiente de equipamentos de proteção individual (EPIs), aumentando os riscos de acidentes de trabalho. A ausência de medidas de segurança reflete a falta de regulamentação e fiscalização específica para a carpintaria naval, o que compromete a proteção dos trabalhadores. Embora a carpintaria naval seja legalmente reconhecida como uma atividade pesqueira, os profissionais do setor continuam enfrentando grande invisibilidade, tanto em relação à implementação de políticas públicas específicas quanto à valorização de seus saberes tradicionais. Diante desse cenário, o monitoramento anual da produção de embarcações no município de Bragança revelou a relevância econômica e cultural do setor, destacando a necessidade urgente de iniciativas que promovam reestruturação e modernização dos estaleiros, garantindo melhores condições de trabalho, segurança e incentivo à continuidade desse ofício. Um dos dados mais interessantes é que nenhum carpinteiro naval se aposenta como carpinteiro, se aposentam como pescador ou lavrador, ou seja, sua profissão não lhes garante aposentadoria. Em relação aos auxílios de saúde, nenhum dos carpinteiros que trabalham na região, possui plano de saúde ou mesmo qualquer ajuda médica. Considerando ainda o aspecto de segurança do trabalho, não foi observado o uso de equipamentos de proteção individual, ou seja, trabalham sob condições inadequadas, na sua maioria usam um par de botas e uma luva na mão. Nesse contexto, os carpinteiros navais produzem suas embarcações mesmo com poucos recursos estruturais e financeiros, porém alicerçados em seus saberes e práticas. Buscam estratégias para adquirir a matéria prima (madeira) e recursos financeiros para começarem a construir, seja realizando acordos com patrões de pesca ou comprando os materiais e realizando o pagamento somente após a venda da embarcação; em outros casos realizam empréstimos com outros carpinteiros. Assim, suas experiências e competências são reconhecidas com vistas a definição de acordos sociais desses sujeitos dentro de seu grupo social.